segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Idéias Insólitas - Porque nós podemos.

Há uma alameda, espremida entre dois sobrados abandonados. O Personagem aponta em uma das esquinas dessa alameda, seguindo a forma que atacou alguns moradores locais. O atacante era pequeno, maltrapilho e de profundos olhos amarelados. Todas as vítimas descreviam-no com grande pavor e apreensão. Ao ser chamado, o Personagem concluiu que deveria ser um goblin, ou um kobold. (Vamos mais longe na descrição: a aventura em que isso ocorre é de primeiro nível, num D&D 3.5, onde os personagens acham que tudo que podem enfrentar são os bons e velhos goblins e kobolds).

Pois então, ele está na alameda. Seu olhar percorre as lajotas encardidas, passa pela grelha do esgoto, que espirra uma névoa branca para fora, até encontrar o atulhado de lixo que há próxima ao centro da alameda. Então, uma forma se mexe no lixo, furtivamente de início, mas logo se apruma ao ver o Personagem. Na escuridão, olhos amarelos, injetados, brilham como pequenos holofotes do mal. A criatura rasteja, arquejando, rangendo, na direção do Personagem. Ele saca sua arma, diz algo como "Pare!, criatura das trevas!", enquanto o jogador contabiliza o xp que vai ganhar ao destroçar o goblin/kobold/monstro-de-nd-baixo.

Então, das trevas, emerge um brinquedo feito de madeira, ou pedra, ou ouro, toscamente entalhado ou magistralmente trabalhado, da forma que o Mestre achar melhor. Seus olhos brilham. Sua boca emite um chiado assustador que atravessa suas terríveis presas, ou algo assim - onde, pelo clima, provavelmente haverá um pouco de sangue ou outra gosma qualquer.

O brinquedo avança, uma chave de corda girando em suas costas, ou na sua barriga, ou baterias mágicas impulsionando seus movimentos, tanto faz. Seus dedos, ou tentáculos de madeira, ou molas de ferro, parecem oferecer o tipo de diversão que você nunca vai esquecer, até porque ficará gravado na sua pele. O mestre sorri, encara o jogador e pergunta, com calma e serenidade: O-que-você-irá-fazer?

Então, nesse exato momento, o jogador se vê frente a frente a uma idéia insólita: algo inesperado, algo digno de uma mente sem sanidade alguma. E as coisas só pioram: após ser quase derrotado, nosso valoroso Personagem vence o desafio desse maligno mestre e pensa algo como "Ufa! Livre!"... Apenas para, momentos depois, descobrir que outras dessas criações foram encontradas vagueando pela cidade... Crias de outro plano? Servos de um autômato poderoso? Filhos de um Geppetto amalucado que quer se vingar do mundo?

Jogadores de rpg, e principalmente mestres entediados, são grandes arquitetos incoscientes de idéias insólitas. Digo isso por experiência: não posso ver um orc com machado duplo na frente que minha mente vagueia para um ataque de orcs ninjas armados com zarabatanas e bumerangues. E o problema é que, de vez em quando, o que parece particularmente bizarro pode ser especialmente agradável, se for trabalhado da maneira certa. Quer dizer, quando você substitui os robgoblins por uma gangue de pedreiros samurais ocultistas, você confunde tanto os jogadores que eles acabam se vendo obrigados a pensar.

E fazer os jogadores pensarem é um desafio cada vez maior para mim. Eles se aliam a história do jogo, fazem contatos, jogam olhares 43 pras princesas, mas estão apenas seguindo uma espécie de programação mental. Talvez seja pelo jogo ser mecânico, com suas regras-engrenagens, dados-pistões e tudo o mais. Minha idéia, e proposta, é mandar uma graxa nessa mecânica, com idéias que, bem, são no mínimo diferentes. E aceitem o desafio de tentar coisas inusitadas - dentro do jogo - com seus jogadores, ou com seu mestre.

Pode ser engraçado? Claro. E o objetivo da coisa toda não é ser uma atividade divertida? Não sei se é pela minha paixão pelo nonsense, mas sinto uma falta danada de idéias que sejam particularmente insanas dentro de uma coerência própria.

Quando seu mestre perguntar o que você quer jogar, diga que adoraria enfrentar um grupo de macacos que foram afetados por magias de aumento de inteligência, ou que está louco para colocar em prática aquela idéia dos Terríveis Móveis Assassinos de Evard.

E quando seu mestre mencionar que alienígenas bardos estão atacando com sua música psicodélica, dê uma chance pro cara.

Um comentário:

Anônimo disse...

holy cheat!!! Muuito loko..creio eu que essa postagem eh um pequeno, mas valoroso aviso diante de uma barreira chamada tradicionalismo, que the charriot crazy blade is in the town baby!